Impacto IA no direito.

Principais formas de impacto da IA no setor jurídico brasileiro

Automação de tarefas rotineiras

A IA está sendo usada para automatizar diversos processos que antes demandavam muito tempo manual, como: triagem de documentos, análise de contratos, monitoramento de prazos, classificação de processos, pesquisas jurisprudenciais, elaboração inicial de petições ou peças jurídicas.

Por exemplo, a plataforma Legalcloud, brasileira, oferece redação de peças com IA, cálculo automático de prazos processuais e monitoramento de andamentos.

Isso permite ganho de eficiência — menos horas gastas em tarefas mecânicas e mais foco em tarefas estratégicas.

Eficiência, produtividade e custos

Estudos apontam que muitos profissionais do Direito acreditam que a IA pode aumentar a eficiência do trabalho jurídico. Uma pesquisa apontou que 87% dos profissionais da área confiam na IA para aumentar eficiência.

Outra publicação mostra que no cenário brasileiro a IA “revoluciona o direito … com ganhos de eficiência” (embora com ressalvas sobre riscos)

Em resumo: menos retrabalho, menos erro humano, possibilidade de reduzir tempo de resposta para clientes e, potencialmente, menores custos operacionais.

Mudança no modelo de negócio dos escritórios e departamentos jurídicos

  • Escritórios que adotam IA ou automação ganham competitividade: conseguem entregar com mais agilidade, com mais previsibilidade.
  • Departamentos jurídicos internos de empresas (in-house) também vêm adotando IA para triagem de litígios, jurimetria, previsão de risco, o que muda o papel do jurídico de “reagir” para “antecipar”.
  • Surgem ou se fortalecem “legaltechs” (startups jurídicas) que oferecem soluções de IA, automação, análise de dados jurídicos. Isso cria um ecossistema novo no mercado jurídico brasileiro.

Qualificação e competências profissionais

Com a IA entrando na rotina jurídica, advogados, assessores e equipes jurídicas precisam desenvolver novas competências: saber lidar com ferramentas de automação, interpretar os outputs de IA, entender os limites (vieses, erros) da tecnologia, pensar de forma mais estratégica.

Habilidade tecnológica (ou pelo menos literacia digital) passa a ser diferencial.

Mudança nos serviços prestados e no relacionamento com o cliente

  • A IA permite que serviços jurídicos sejam entregues mais rapidamente ou com melhores previsões, o que pode mudar expectativas dos clientes (empresas ou pessoas físicas).
  • Advogados podem oferecer pacotes de serviços com precificação diferente, baseados em eficiência e automação.
  • Maior transparência nos processos, maior uso de dados para prever resultados — embora com cautela — também muda como cliente e advogado se relacionam.

Regulação, ética e riscos

A adoção de IA no jurídico também levanta questões éticas, regulatórias e de responsabilidade. Quem responde se uma IA comete erro, qual o papel do advogado, como garantir que o sistema não reproduza vieses, como assegurar a segurança de dados? No Brasil, já se discute esse cenário.

Também há barreiras como a necessidade de garantir a qualidade dos dados, adaptabilidade dos modelos para o contexto brasileiro, transparência nos algoritmos.

Exemplos práticos no Brasil

  • A Legalcloud, citada acima, com IA para redação de peças jurídicas e cálculo automático de prazos.
  • Estudo “Aplicação de Large Language Models na Análise e Síntese de Documentos Jurídicos” mostra que modelos como GPT-4, BERT, LLaMA2 começam a ser explorados no contexto jurídico, para classificação, resumo, recuperação de informação.
  • Também há pesquisas sobre “GPTs e Direito” e impactos das IAs generativas no mercado jurídico brasileiro.

 

Desafios & limitações

  • Qualidade e adaptabilidade dos dados: Modelos de IA dependem de dados de boa qualidade, específicos ao contexto brasileiro (legislação, jurisprudência, língua portuguesa). Sem isso, risco de “alucinações” ou resultados imprecisos.
  • Vieses e responsabilidade legal: IA pode reproduzir vieses existentes, gerar decisões ou classificações injustas. O advogado continua tendo responsabilidade ética e profissional.
  • Regulação e ética: Ainda há incertezas regulatórias sobre o uso de IA, privacidade de dados, accountability, transparência de algoritmos. Isso exige cuidado.
  • Mudança cultural e adoção: A mera tecnologia não basta; advogados e escritórios precisam incorporar essas ferramentas de forma estratégica, ajustar processos internos, treinar pessoas. Se for apenas “colar” uma IA sem mudança de workflow, os ganhos serão limitados.
  • Limitações técnicas: Algumas tarefas ainda requerem julgamento humano, sensibilidade jurídica, interpretação de contexto que IA ainda está longe de substituir por completo no direito.

 

Tendências futuras para o mercado jurídico brasileiro

  • Aumento do uso de IA generativa (Large Language Models) para elaboração de documentos, peças, sínteses, argumentações iniciais.
  • Maior integração entre jurimetria, análise de dados e estratégia jurídica — i.e., usar dados para prever litígios, definir risco, orçar provisões.
  • Escritórios e departamentos jurídicos investindo mais em tecnologia, automação, transformação digital para se manter competitivos.
  • Crescimento de legaltechs e soluções-SaaS jurídicas focadas no mercado brasileiro, com modelos adaptados à língua, legislação, jurisprudência local.
  • Mudança no papel do advogado: menos “digitador” ou “operador de processos” e mais “estrategista”, “gestor de tecnologia”, “analista de risco jurídico”.
  • Regulamentação mais clara sobre IA no âmbito jurídico, ética, transparência, privacidade, responsabilidade.
  • Potencial para serviços jurídicos mais acessíveis, mais rápidos — o que pode beneficiar especialmente quem tem menos recursos.

 

Dados destacados

  • Uma pesquisa indica que 55,1% dos profissionais de direito no Brasil já utilizam IA generativa em suas atividades diárias.
  • Do total, 50% dos advogados autônomos, 62% dos advogados em escritórios ou empresas privadas, e 63% dos operadores do direito no setor público relataram uso dessa tecnologia.
  • Entre quem utiliza, 78% disseram usar a IA ao menos uma vez por semana.
  • Outra pesquisa mostra que 87% dos profissionais do direito acreditam que a IA aumentará a eficiência do trabalho jurídico.
  • Algumas estimativas apontam que no setor jurídico global (com reflexos no Brasil), plataformas de IA poderiam levar a ganhos de produtividade de até 90% em certas tarefas rotineiras.
  • No relatório “Inteligência artificial e a (re)configuração do mercado jurídico”, constata-se que, embora no Brasil os percentuais de uso estejam ainda abaixo de mercados mais maduros, há uma expectativa de rápida expansão.
  • Além disso, foi levantado que apenas 22% dos escritórios ou departamentos jurídicos possuíam uma “estratégia clara de IA” definida — o que sugere que embora o uso esteja crescendo, ainda há lacunas de planejamento.

O que esses dados sugerem

  • A adoção de IA no jurídico brasileiro já é significativa (mais de metade dos profissionais dizem usar IA generativa).
  • O entusiasmo é alto em relação aos ganhos de eficiência, mas existe uma lacuna entre adoção e maturidade (estratégia clara, integração completa, etc.).
  • O mercado parece estar no meio de transição: tarefas automatizáveis estão sendo capturadas pela IA, enquanto tarefas mais complexas ainda dependem fortemente de humanos.
  • Para escritórios ou departamentos que definiram estratégias claras de IA, há indicativos de vantagem competitiva — o que ressalta que não basta usar a tecnologia: é preciso integrá-la de forma planejada.

 

Limitações e observações sobre os dados

  • A grande maioria dos dados são autodeclarados (pesquisas com profissionais) — sempre há o viés de “quem responde pode estar mais engajado com o tema”.
  • Alguns dados se referem ao setor global ou a estimativas com impacto no Brasil, o que exige cautela ao extrapolar para o contexto brasileiro puro.
  • A definição de “IA generativa” ou “uso de IA” pode variar bastante entre profissionais — desde uso simples (resumo de documentos) até uso integrado em fluxo de trabalho.
  • O dado de ganho de produtividade “até 90%” é mais um potencial estimado para certas tarefas automatizáveis, não uma média geral para todos os escritórios.

 

Abaixo está um panorama dividido em duas partes — Oportunidades e Riscos — com foco específico no mercado jurídico brasileiro, baseado nos relatórios do CNJ, OAB-SP/Jusbrasil/Trybe e em análises recentes de legaltechs do país.

OPORTUNIDADES

  1. Aumento massivo de eficiência
  • IA pode automatizar até 60% a 80% das tarefas repetitivas de um advogado (pesquisa, formatação de documentos, conferência de cláusulas, etc.).
  • Gera economia de tempo e custo operacional — escritórios passam a atender mais clientes com a mesma equipe.
  • Segundo o relatório OAB-SP/Jusbrasil/Trybe (2025), 87% dos profissionais acreditam que a IA aumenta significativamente a eficiência e qualidade do trabalho jurídico.

Oportunidade prática: “escritórios que integrarem IA em fluxos internos (contratos, due diligence, petições) ganham vantagem competitiva e podem oferecer serviços mais rápidos e acessíveis.” Fernando Almeida, Agência Hubway.

  1. Democratização do acesso à Justiça
  • A IA permite que serviços jurídicos cheguem a pessoas e empresas menores (via chatbots jurídicos, plataformas automatizadas, atendimento híbrido).
  • Isso amplia o alcance da advocacia e reduz a assimetria entre grandes bancas e pequenos escritórios.

Exemplo: startups como Legalcloud, ProJuris e Kurv.ai já oferecem produtos acessíveis que reduzem barreiras de entrada para advogados autônomos.

  1. Criação de novos modelos de negócio
  • Escritórios podem criar produtos jurídicos “as a service”, como:
  • Assinaturas jurídicas automatizadas (planos mensais com respostas via IA supervisionada).
  • Ferramentas próprias de compliance, due diligence e análise contratual.
  • Plataformas de autoatendimento jurídico para clientes empresariais.
  • Isso muda o papel do advogado de “executor de tarefas” para “curador de inteligência”.

Oportunidade: “quem dominar automações e fluxos de IA poderá oferecer pacotes padronizados de alto valor agregado, sem depender apenas de hora cobrada.” Fernando Almeida, Agência Hubway.

  1. Melhoria da gestão de risco e tomada de decisão
  • A IA aplicada à jurimetria permite analisar padrões de decisões judiciais, prever chances de êxito e orientar melhor estratégias processuais.
  • Isso ajuda a reduzir incertezas e custos com litígios.

Exemplo: departamentos jurídicos internos de empresas estão adotando modelos preditivos para avaliar risco antes de ajuizar ações ou firmar acordos.

  1. Posicionamento e reputação de inovação
  • Escritórios e profissionais que utilizam IA de forma ética e transparente podem se destacar no mercado — como referência em tecnologia e eficiência.
  • Isso atrai clientes corporativos e parceiros mais exigentes.

Exemplo: advogados que compartilham conteúdo sobre uso ético da IA ou mostram resultados práticos de automação fortalecem a marca pessoal e institucional.

RISCOS

  1. Erros técnicos e “alucinações” da IA
  • Modelos generativos podem inventar jurisprudências, leis ou decisões inexistentes, se não forem supervisionados.
  • Isso pode gerar responsabilidade profissional e ética para o advogado.
  • Segundo o relatório do CNJ (2024), o erro algorítmico é um dos principais fatores de risco percebido por magistrados e servidores.

Mitigação: uso de IA deve ser sempre acompanhado de revisão humana e fontes verificáveis.

  1. Risco ético e regulatório
  • O Conselho Federal da OAB ainda não definiu diretrizes específicas sobre IA, mas já discute limites éticos e de sigilo profissional.
  • Há risco de violação de LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) ao subir informações de clientes em ferramentas sem segurança jurídica adequada.
  • Também há dilemas sobre autoria de peças, transparência no uso de IA e responsabilidade sobre o resultado.

Mitigação: criar políticas internas claras sobre uso da IA (disclaimer, revisão, controle de dados sensíveis).

  1. Desigualdade de acesso tecnológico
  • Escritórios pequenos e profissionais autônomos podem ficar em desvantagem se não tiverem acesso ou preparo técnico para usar IA de forma eficiente.
  • Isso pode aumentar a concentração de mercado em grandes bancas ou empresas de legaltech.

Mitigação: adoção gradual de ferramentas open source ou acessíveis (como ChatGPT, Claude, ou plataformas brasileiras).

  1. Dependência tecnológica

Risco de confiar excessivamente em sistemas de terceiros sem entender o funcionamento.

Caso a ferramenta mude modelo de preço ou acesso (por exemplo, API ou limite de tokens), o fluxo jurídico pode ser interrompido.

Mitigação: manter redundância de sistemas e documentação clara dos fluxos automatizados.

  1. Vieses e discriminação algorítmica
  • Modelos treinados em jurisprudência podem reproduzir vieses históricos do Judiciário, afetando previsões ou classificações.
  • Isso pode gerar injustiças automatizadas ou reforçar desigualdades processuais.

Mitigação: exigir transparência de fornecedores e revisar periodicamente outputs da IA com olhar crítico.

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